Quem já teve a oportunidade de conhecer Nova Iorque, a cidade
mais populosa dos Estados Unidos e dona de um dos centros mais abrangentes da
terra (tanto em aspectos econômicos quanto tecnológicos, educacionais,
comerciais e sociais), sabe bem que a rotina incessante propagada por esta
megalópole (nome que se dá as grandes concentrações metropolitanas) engloba
proporções imensas, sendo este um palco para diversas tendências espalhadas
pelo globo. Não é de hoje que este centro costeiro possui considerável influência
nas mais diversas áreas culturais do continente americano, sendo abraçada como
fonte não só da economia, como também da política e do entretenimento em geral
(basta comparar os planos de infraestrutura, investimento e renda gerados pelas
suas milhares de atrações com qualquer outra do planeta para ter uma ideia da
dimensão que é sua existência). Sob um olhar de domínio e prosperidade, as
famosas Bolsa de Valores, a Estátua da Liberdade, os teatros da Broadway, os
grandes centros urbanos como a Chinatown (maior reduto do mundo de chineses
fora da própria China), o Brooklyn e Manhattan, o Central Park, a Times Squares
e seu indubitável lema de propagar a informação vinte e quatro horas por dia e tantas
outras atrações ostentam toda a glória do poder americano, onde até mesmo decisões
de caráter mundial são tomadas em seu solo (a sede da ONU fica lá). Não por
menos o local ficou conhecido como a “capital cultural do mundo”.
Ainda que possam ser gastas tantas linhas quanto esta
abordagem puder agregar, Nova Iorque surpreendeu a cena do musical durante a
primeira metade dos anos oitenta e não, não foi por causa das seminais bandas Punk
que permeavam o lugar (RAMONES, DEAD BOYS, os veteranos Iggy Pop e o grupo BLONDIE só para citar alguns), mas por uma cria delas, que mostrou
ao mundo que o recém-nascido movimento thrash
também possuía vida fora das fronteiras californianas.
Era 1983 quando o grupo de Nova Jersey OVERKILL já arrancava gritos de histeria a partir de sua
recém-lançada demo, intitulada POWER FROM BLACK – de onde a Megaforce
mais que ligeiramente tratou de destacar a faixa DEATH RIDER e colocá-la na sua já manjada coletânea METAL MASSACRE - quando, passado pouco
mais de um ano e meio de tal lançamento e a pedido da mesma gravadora os quatro
garotos que compunham a banda entraram em estúdio para a gravação de seu
primeiro full lenght e, quem sabe,
conseguir algo mais.
Em se tratando de um debut, a banda obteve excelente resposta da mídia e dos fãs, fato que se comprovava com as casas de shows lotadas e platéia sempre insana. |
Voltando um pouco no tempo, percebe-se que o conjunto passou
por várias mudanças até chegar ao estado atual, sendo que a formação inicial
primava por uma sonoridade totalmente orientada para o Punk Rock, com as
famosas linhas de três acordes e a destrutiva presença de palco. O momento, no
entanto, não durou muito, e ainda em 1980 o grupo se desfez deixado nas mãos
dos integrantes Carlo D. D. Verni e “Rat” Skates, respectivamente baixista e baterista
da banda. Sendo assim, já envolvidos por uma nova visão musical, os jovens trataram
de reorganizar as ideias, começando pelo recrutamento do guitarrista Robert “Riff Thunder” Pisarek que trouxe
o nome OVERKILL para a banda. No
entanto, Pisarek não se firmou, sendo
substituído pela dupla Anthony Ammendolo
e Dan Spitz. Anthony sairia ainda em 1981, enquanto Dan permaneceria um pouco mais. Após sua departida, Dan conseguiu fazer uma carreira de
sucesso tocando ao lado do ANTHRAX,
grupo de Thrash Metal também de Nova Iorque. No posto de Ammendolo foi convocado Rich
Conte, que a esta altura ajudou a executar boa parte do material que seria
lançado no primeiro disco do grupo, visto que antes desse período a banda
primava em tocar covers de grupos que iam do Metal tradicional ao Punk Rock, só
que de uma forma um pouco mais acelerada.
De forma definitiva, o guitarrista Bobby Gustafson foi incumbido de segurar as seis cordas assim que Dan e Rich saíram, enquanto o já notório vocalista Bobby “Blitz” Ellsworth tomava conta dos vocais, demonstrando uma
técnica que ia do rasgado ao grave com facilidade. Chegando em 1983, quando o
conjunto lançou a demo POWER IN BLACK, o tape com pouco mais
de quinze minutos trazia na quarta faixa a canção DEATH RIDER, e a história novamente faz uma ponte com o lançamento
do disco de estreia do quarteto.
Adorada por praticamente todos os fãs de Thrash Metal, a película apresentou ao mundo as faixas "Hammerhead", "There's No Tomorrow" e "Rotten To The Core", clássicos absolutos do gênero! |
Talvez já tivessem ciência de seu potencial ou, mesmo que na
sorte, conseguiram tirar leite de pedra, o fato é que após as seções de
gravação no Pyramid Studios localizado na cidade natal da banda o produtor Carl Canedy e um sorridente Jon Zazula saíram com uma verdadeira
pepita do heavy metal nas mãos. Chamado
por FEEL THE FIRE a partir daquele 15
de Abril de 1985, o debut da banda
apresentava uma força esmagadora, onde o baixo pungente de Carlo D.D. Verni segurava com extrema perfeição o espaço que a
única guitarra do grupo, a cargo de Bobby
Gustafson deixava por simples ausência de falsa modéstia. A bateria de “Rat” Skates dava um tom bastante
original para as composições da película, trazendo aquele clima punkrock característico dos
nova-iorquinos, enquanto a voz potente de Bobby
“blitz” Ellsworth mostrava um poder de interpretação fora do comum, vide a
faixa titulo com passagens que iam do visceral ao limpo e a sensacional SECOND SON. Num trabalho cuja coesão
aparece com a precisão de um relógio suíço, fica difícil destacar uma ou outra
faixa, mas convenhamos, ROTTEN TO THE
CORE não deixa pedra sobre pedra! É um golpe sonoro fulminante, daqueles
que arranca o indivíduo do chão em segundos e o coloca em total estado de
êxtase (digo isto por experiência própria, pois vi a banda ao vivo e apesar de
ter sido a segunda faixa do set list daquela
noite, pude observar que alguns fãs alucinados simplesmente desfaleciam só com
os primeiros acordes)! Sem comentários. THERE’S
NO TOMORROW conta com uma velocidade fora dos padrões e uma cadência
rítmica no meio de tirar o fôlego, enquanto que tocar HAMMERHEAD em casas lotadas é covardia pra quem estiver colado à
grade de proteção, tamanho é o headbanging
que a canção proporciona. A faixa de abertura do disco, RAISE THE DEAD, traz à tona aquele espírito das bandas de metal dos
anos setenta, de quem o grupo sempre admitiu ser fã, enquanto BLOOD AND IRON é mais uma daquelas cujo
instrumental possui tanto peso que é incrível ver como a própria banda resistiu
a tano barulho e rodas de mosh nesses
mais de trinta anos. KILL AT COMMAND
cria uma tênue linha do que viria a ser trabalhado nos álbuns posteriores,
enquanto OVERKILL conta uma história
metafórica da criação e do destino do grupo em si – história esta contada em
outros quatro capítulos no decorrer dos anos. Para encerrar, o cover de SONIC REDUCER, dos DEAD BOYS coroa esta irrepreensível gema, dotada de todo vigor e
espírito do Thrash Metal de 1980 e mostrando também o respeito que o OVERKILL levava em seu legado, além dos
apelidos dos integrantes (amplamente influenciados pelas bandas Punk do seu
cenário). Conhecida primeiramente como o projeto de Punk Rock THE LUBRICANTS para, posteriormente,
adotar o nome de VIRGIN KILLER e
finalmente assimilar a obra do MOTÖRHEAD
como marca de batismo, a ex-banda de Dan
Spitz enfim dava sua arrancada no cenário musical da cena fora de Nova
Iorque, deixando multidões mundo afora surpresas com suas apresentações cheias
de sarcasmo, palavrões e gestos obscenos. Embora tenha sido concebida de forma
rebelde, agressiva e até de certo ponto grosseira (até nisso se assemelha com
seus tutores), a banda ainda é significativa na cena atual e este registro de
estúdio possui um grande valor não só para muitos grupos espalhados pelo globo
como para quem vos escreve (foi simplesmente meu primeiro álbum de Thrash Metal)
e, principalmente, para o incansável vocalista, Bobby, que durante uma entrevista para a revista Road Crew (edição de Junho de 2012)
falou, sem rodeios: “Certa vez, alguém me
perguntou qual foi o álbum que escutei e que mudou minha vida e eu respondi FEEL THE FIRE, pois, em um momento eu
estava trabalhando em uma empresa de meio expediente e na outra metade do dia
ensaiava com a banda (...). Logo em seguida, estava em um estúdio gravando um
álbum e depois voando para a Europa para fazer shows. Então, esse álbum mudou
minha vida totalmente. Por isso é um álbum especial!”. Palavras de quem
admite gostar do que faz e não sente um pingo de vergonha por isso...
A produção e distribuição do disco, realizadas à cargo da Megaforce Records, ajudou a banda a se destacar no cenário, sendo rapidamente alçada para o posto de destaque no meio da música pesada. |
É, se depender do OVERKILL
e de tudo que aqui foi abordado, Nova Iorque tem tudo para continuar sendo este
importante polo cultural do nosso planeta por muitos e muitos anos, mantendo
sempre a chama da velha iniciativa acesa, servindo de exemplo para as gerações
posteriores. Que a banda continue próspera como sua cidade natal, este é um
pedido sincero de um mero fã.
Escrito em 30 de março de 2013 com início às 22hrs. e 44min.
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