domingo, 24 de novembro de 2013

Heavy Metal Breakdown - Grave Digger

O primeiro álbum da banda alemã de Heavy Metal Grave Digger.
Uma das coisas que mais me impressionam em meio á tanta tecnologia e modernidade é a simplicidade como algumas atitudes são tomadas, visando um resultado prático e funcional. Não é de hoje que estamos acostumados a ouvir que fazer o prático é o correto, e que nem sempre o meio mais complexo ou mais elaborado é o mais eficaz. Em muitos momentos, fazer o óbvio é o que determina um resultado mais eficiente, aquele que se encaixa na situação da maneira mais correta e singular.
Aposto com qualquer um que o vocalista Crhis Boltendahl nem pensava em mudar o mundo quando começou uma banda, na cidade de Gladbeck, localizada no estado de North Rhine-Westphalia, no oeste da Alemanha (o mesmo estado da banda BLIND GUARDIAN, que é oriunda a cidade de Krefeld e do ACCEPT, que pertence a cidade de Solingen). Nascido no município de Colonia, o jovem alemão via aos seus dezoito anos o sonho de montar uma banda virar realidade, ao unir-se com os jovens Peter Masson e Phillip Seibel e começar a tocar as primeiras notas de um futuro promissor. Acumulando as funções de vocalista e baixista, Boltendahl criava as bases musicais enquanto Masson garantia o ritmo na guitarra e Seibel comandava as ações na bateria, ao passo que lentamente a banda começava a atrair indivíduos que iam apreciar os seus trabalhos. Essas foram as ações que compuseram os primeiros passos do GRAVE DIGGER.
Em 1982 o grupo lançou no mercado uma demo que continha seis faixas, sendo os destaques as canções SHOOT HER DOWN, 2000 LIGHT YEARS FROM HOME e RIDE ON  que obtiveram boa repercussão no cenário da musica pesada alemã. No início dos anos oitenta diversas bandas despontavam no solo germânico, e Boltendahl estava lado a lado com dezenas de outros jovens talentosos e determinados, que assim como ele buscavam arduamente o sonho de seguir carreiras triunfantes dentro do Heavy Metal, como os ídolos britânicos do JUDAS PRIEST, IRON MAIDEN e MOTÖRHEAD ou mesmo os heróis nacionais, SCORPINOS e ACCEPT - o primeiro já muito conhecido por toda a Europa e o segundo uma promessa que despontava como um dos conjuntos mais interessantes dos últimos anos.
Correspondendo a expectativa de continuar no mundo do som pesado, no ano seguinte o grupo dedicou-se a apresentar um trabalho mais sólido, com composições mais trabalhadas e melhor produzidas. O resultado foi a segunda demo, BORN AGAIN, que contava como trunfos as faixas LEGIONS OF THE LOST, WE WANNA ROCK YOU e HEAVY METAL BREAKDOWN, canção esta que faria uma transformação na banda e passaria a acompanha-la em todos os palcos desde então. O estilo cru e direto das musicas seguia o mesmo padrão do lançamento anterior, com notas que iam do Heavy Metal tradicional para algo orientado ao Speed Metal, uma novidade na primeira metade da década e oitenta. A formação sofreu ajustes, com a inclusão do baixista Will Lackmann (falecido em 2013 por causas não divulgadas), que deixava Boltendahl livre para interpretar melhor as canções e do baterista Albert Eckardt, mais técnico que seu antecessor.
Nesta segunda tentativa o trabalho mostrou-se mais consistente, tanto que agradou os diretores da gravadora Noise Records, que convocou os rapazes para participarem de uma coletânea que unia canções de diversos novos grupos do Heavy Metal alemão. Ainda no ano de 1983 o selo lançaria o Split ROCK FROM HELL – GERMAN METAL ATTACK, que trazia num único disco músicas das bandas S.A.D.O., RUNNING WILD, RATED X, RAILWAY e claro, o GRAVE DIGGER, que em pouco mais de trinta e cinco minutos mostraram ao mundo a força do Heavy Metal alemão, infestando os lares de milhares de jovens por todo o mundo.
As faixas escolhidas pela banda para representar seu trabalho foram VIOLENCE e 2000 LIGHT YEARS FROM HOME, visto que este inusitado cover da banda britânica ROLLING STONES apresentava palhetadas furiosas sem igual, ideal para sacudir as cabeleiras emaranhadas dos metalheads.
Mais uma vez os esforços de Chris e sua banda obtiveram ótimos resultados e o grupo foi agraciado com um contrato bancado pela Noise, que garantia ao quarteto o lançamento de seu primeiro disco oficial. Enfim o sonho de Boltendahl estava muito próximo de virar realidade, e o primeiro passo para uma vida repleta de aventura e desafio estava a poucos meses de gravação no tradicional Music Lab Studio, localizado em Berlim.
O disco com o encarte aberto mostrando a capa do raro EP Shoot Her Down!
Produzido por Karl-Ulrich Walterback e a própria banda, o disco merecidamente intitulado de HEAVY METAL BREAKDOWN apresentava na capa o mesmo desenho da demo BORN AGAIN, criado por Bern Gansohr. Com traços simples, porém funcionais, a capa mostra o planeta terra visto do espaço, sendo que o lado esquerdo é representado por uma face de um crânio humano, enquanto o lado oposto possui uma enorme cruz de madeira sob fortes chamas em sua base. A única diferença está no acabamento mais detalhado, enquanto a capa da demo está precariamente estampada sob um papel vermelho.
Gravado e lançado no ano de 1984 (mais precisamente em 20 de outubro), o disco vinha embalado por uma verdadeira onda de Heavy Metal que se alastrava por toda a Alemanha, visto que nesta época ocorreu uma enorme transformação no cenário da música pesada local. Grupos como KREATOR, RUNNING WILD, IRON ANGEL e muitos outros estavam despontando, apresentando seus primeiros trabalhos e mostrando que possuíam competência no campo do som pesado, assim como Chris e companhia.
O trabalho abre de forma potente com Boltendahl encarnando um verdadeiro vociferador em meio a eficientes técnicas de guitarra, baixo e bateria. HEADBANGING MAN mostra um lado pesado, rápido e agressivo, unindo o vocal rasgado de Chris ao instrumental funcional de maneira prática e segura. Logo de cara percebe-se que houve um salto técnico da produção se comparada com as demos lançadas no início da década, contudo ainda são notórias algumas falhas durante o procedimento, como o instrumental abafado durante toda a audição do disco. Um fato pouco comentado é que Harris Johns trabalhou como engenheiro de som neste LP, sendo que alguns anos depois Harris ficaria famoso em toda a Europa como um renomado produtor de bandas de som pesado.
A faixa título é a seguinte, sendo que é a mesma apresentada no tracklist de BORN AGAIN, com melhorias consideráveis em sua execução. Nos dias de hoje, quando se fala de GRAVE DIGGER cria-se certa discussão entre os fãs, visto que no neste início de carreira o estilo do grupo consistia em canções mais simples e práticas, contando com poucos arranjos. Para os fãs mais recentes e apreciadores da fase mais épica do conjunto, com músicas mais elaboradas e arranjos sofisticados, essa fase é tida como datada e precária, o oposto da opinião dos fãs mais velhos, que veem na canção citada o pináculo da simplicidade e objetividade não só deste, mas de qualquer grupo que se proponha a fazer rock. O fato inegável é que HEAVY METAL BREAKDOWN ainda consta em qualquer show do grupo, sendo nesses mais de trinta anos o carro chefe da banda, apresentada por Chris e cantada em uníssono pelos fãs, sejam os mais jovens ou os veteranos.
BACK FROM THE WAR apresenta uma linha mito explorada pelas bandas alemãs: a guerra e suas consequências. Marcada por um andamento cadenciado, o destaque fica com as baquetas de Eckardt, que comanda a faixa com uma execução cativante, enquanto o refrão forte faz presença no meio e na parte final da canção.
Em meio à sonoridade crua e ríspida, há uma balada que se destaca principalmente pelo arranjo de piano e pelo vocal bem empregado de Chris. Trata-se da música YESTERDAY, que contou com o auxílio do tecladista Dietmar Dillhardt e foi regravada e lançada como single em 2006. A faixa foi gravada com base em um Blues escrito pela compositora Beate Marquardt sendo que, curiosamente, os dois álbuns seguintes do grupo, WITCH HUNTER (1985) e WAR GAMES (1986) apresentam a mesma fórmula, incluindo uma balada em meio às demais faixas agressivas e de som abafado.
Bem no meio do disco o vigor chega novamente com tudo, e a agressiva faixa WE WANNA ROCK YOU dá as caras. Uma das musicas mais legais da banda desde os tempos de BORN AGAIN, a canção foi responsável por eufóricas apresentações nas casas de show germânicas, onde a plateia explosiva gritava junto com Chris o brilhante refrão! Simples e prático como dito nas primeiras linhas deste texto.
O começo acústico de LEGION OF THE LOST remete ao ouvinte uma passagem mais calma e tranquila, contudo a faixa vai ganhando força conforme caminha, culminando em uma apresentação digna de aplausos. A faixa TYRANT segue as características de um Heavy Metal potente e feito com vontade, preparando o terreno para o cover que evidentemente não poderia faltar neste disco. 2000 LIGHT YEARS FROM HOME chega com a mesma força de quando saiu na primeira demo, há pouco mais de dois anos atrás. A faixa, que mostrava ousadia para a época, principalmente por não se tratar de algo mais pesado ou radical, empregava notas cruas e agressivas, casando perfeitamente com a proposta da banda para aquele primeiro trabalho. Se contassem dessa versão para Keith Richards e Mick Jagger, os Glimmer Twins, sem dúvida eles ficariam orgulhosos.
O final ficou por conta da acelerada HEART ATTACK, que soa como um míssil Speed Metal comandado pela batida frenética de Eckardt e a guitarra emaranhada de Masson. Os quase quarenta minutos de pura energia findam-se de forma objetiva, deixando para os fãs uma necessidade de ouvir o disco novamente apenas para apreciar a energia deste trabalho descompromissado com o sucesso ou o mainstream.
O disco foi responsável por colocar o GRAVE DIGGER no mapa, porém era apenas o começo da jornada para Chris e sua banda. Sendo o único membro fixo no grupo desde sua formação, Boltendahl passou por diversas transformações dentro do conjunto, como as fases mais Hard Rock e AOR, o que culminou com o encerramento temporário das atividades da banda, voltando para algo mais tradicional no início dos anos noventa e mudando novamente para uma roupagem mais épica, fase esta que durou até recentemente, quando enfim passou a contar com performances que ficam entre o Heavy Metal e o Power Metal. Para os fãs, este registro é um item obrigatório, mesmo que simplório, enquanto que para os apreciadores da musica pesada em geral fica a dica sobre como soar de forma descompromissada, prática e espontânea, sem tentar ser o parecer mais do que realmente é. Ponto para a simplicidade.
Assim como os álbuns do ACCEPT e do SCORPIONS eram referência para toda a cena de musica pesada que se formava na Alemanha no início dos anos oitenta, o disco de estreia do GRAVE DIGGER tornou-se um marco para as gerações seguintes, indo além da expectativa de Boltendahl e servido como base para várias outras bandas não só na Europa, mas em todo mundo. Países como o Japão e o Brasil despontam como os grandes centros de adoração ao grupo, sendo que São Paulo possui um dos maiores fãs clube de todo o planeta dedicado ao conjunto. A prova da importância deste clássico registro fica por conta de seus diversos relançamentos, que partem desde o LP produzido pelo selo Megaforce para o mercado norte americano até as versões mais recentes em CD, disponibilizadas há três anos. A versão em vinil prensada pela Megaforce Records ainda nos anos oitenta fez uma confusão com as faixas, omitindo o cover dos Stones ao mesmo tempo em que incluía uma faixa do EP SHOT HER DOWN! (no caso, a faixa STORMING THE BRAIN) e a versão mix da musica WE WANNA ROCK YOU, que substituiu a versão original. O resultado deixou a versão da Megaforce bem diferente em relação à versão da Noise. Há ainda Uma versão em CD exclusiva e muito rara produzida no Japão do ano de 1994, apresentando o título de HEAVY METAL BREAKDOWN/ RARE TRACKS, onde faixas do EP SHOT HER DOWN! (1984) e de diversos singles constam como bônus do pacote. Entre elas, destacam-se as canções VIOLENCE (tirada do Split de 1983 ROCK FROM HELL – GERMAN METAL ATTACK comentada acima), SHOOT HER DOWN e STORMING THE BRAIN (do EP SHOOT HER DOWN!), as faixas DON’T KILL THE CHILDREN e GIRLS OF ROCK’N’ROLL (da compilação THE BEST OF EIGHTIES lançada em fevereiro 1994) e as inusitadas STRONGER THAN NEVER e I DON’T NEED YOUR LOVE (tiradas do disco STRONGER THAN EVER, lançado em 1986 num período em que a banda atendia somente pelo nome DIGGER e praticava uma mescla de Hard Rock com AOR). O álbum contou com diversas versões durante os anos 90 e 2000 disponibilizadas por várias gravadoras licenciadas mundo afora (em 1994 pela Dark Wings/ Modern Music e em 2003, 2007 e 2010 pelo proprietário dos direitos do disco - segundo o site http://www.metal-archives.com o proprietário provavelmente é a Sanctuary Records), sendo interessante ressaltar que em nenhuma destas versões as faixas foram alteradas, tão pouco passaram a contar com os bônus da versão japonesa, o que manteve o conteúdo da forma mais fiel possível em relação ao lançamento original de 1984. Afinal, por que o mesmo deveria sofrer alguma alteração, já que a forma direta e crua com que foi gravada garantiu seu lugar no universo do Heavy Metal por todos esses anos? O que é simples deve permanecer simples, não só para o próprio bem, mas para o bem de toda a modernidade, esta dependente da simplicidade para existir e se justificar.

  
Um close entre a capa, o encarte e o disco.
 Escrito em 23 de novembro de 2013 às 20hrs e 30min.




Nenhum comentário:

Postar um comentário