domingo, 26 de janeiro de 2014

Iron Maiden - Iron Maiden

O primeiro disco da banda britânica de Heavy Metal, Iron maiden, foi lançado em 14 de abril de 1980, pela gravadora EMI.
No final da década de setenta, o Reino Unido passava por uma séria crise socioeconômica, que ameaçava espalhar seu rastro além das décadas. A inflação atingia níveis alarmantes, e a taxa de desemprego assombrava as famílias da classe trabalhadora, tal qual uma praga recém-chegada. Na verdade, todo esse acontecimento era um reflexo dos anos pós-guerra enfrentados por toda a Europa, formando um cenário de pessimismo e baixas perspectivas.
Para reverter o quadro, o governo inglês promoveu um forte esquema político,            que colocava na linha de frente as principais potências partidárias de toda a nação. Foi o estopim para a impactante carreira de uma mulher com forte senso de liderança, além de um posicionamento firme e nervos de aço para encarar e assumir riscos que incluíam desde o futuro da população britânica até a aristocracia real.
Aconteceu em 1979. Margaret Thatcher torna-se a Primeira-Ministra do Reino Unido, sendo este um marco histórico não só para o país, mas também para o seu partido (o Partido Conservador, do qual foi a primeira líder mulher) e, por que não, para a humanidade. Afinal, não era comum na época eleger mulheres para altos cargos políticos, mesmo na terra de Elizabeth II, onde ainda hoje a monarquia exerce influência soberana nas questões sociais. As cortinas desse cenário se fecharam, e uma aposta no futuro foi lançada, com o objetivo único de resgatar os traços de dignidade e prosperidade perdidos em alguma parte na linha da história.
O início dos anos oitenta trouxeram desafios para Margareth, como o combate contra a recessão econômica, a crise do desemprego (como nos dias atuais) e uma antiga richa contra os nossos “hermanos” (sim, eles mesmos) pelas Ilhas Malvinas, onde a Argentina dançou um tango daqueles... Sua conduta foi marcada por rigidez, doutrina e principalmente repressão aos sindicatos e a política soviética, sendo que entre rebeliões, tensões civis e até tentativa de assassinato, Margareth cravou seu nome na história britânica, recebendo de críticas da população a elogios e honrarias de diversos governos do mundo.
Logicamente que a história não se resume a isto. Voltando um pouco no tempo, mais precisamente em 1975, vemos um jovem Steve Harris deixar sua atual banda, o GYPSY’S KISS para rumar em direção a algo novo, que fugisse da já manjada história de ter uma banda-aprender a tocar-fazer umas jams-tocar covers em bares.  Baixista rodado de outra banda, o SMILER, Steve era um entusiasta do futebol e um fanático por história, principalmente a do seu país. Natural de Londres, o jovem estava ávido por lançar-se em uma carreira própria, montando seu próprio time, já que estava farto de tocar covers e ser criticado por outros músicos amadores por insistir em material autoral. Sem ficar preso a opiniões, bastou a chegada do Natal daquele ano para Steve materializar seu objetivo: como que buscando inspiração no filme O Homem Da Máscara De Ferro (1938), longa-metragem baseado na obra de Alexandre Dumas, Steve encontrou o nome perfeito para batizar seu novo conjunto. Ao ver a grande máquina de tortura medieval usada para sentenciar prisioneiros da Idade Média, não teve dúvidas em usar seu nome para seus propósitos. Estava criada a lenda britânica IRON MAIDEN.
Desde o início Steve sabia o que queria. Orgulhava-se de ser um headbanger, e a todo custo faria de sua cria uma banda de Metal. Durante a segunda metade dos anos setenta, o movimento Punk estourou, e aliado às condições sociais impostas pelo governo britânico sua ideia de liberdade e igualdade alastrou-se não só pela velha Inglaterra, mas pelos quatro cantos do mundo. A essa altura, só o que se ouvia era o som das três notas, o rugido das batidas ensandecidas e o berro que rasgava diretamente dos porões sujos e escaldantes dos guetos ingleses, onde a palavra anarquia nunca havia feito tanto sentido quanto naquele momento. Nesses primeiros anos de vida o IRON MAIDEN ouviu diversas propostas para largar o Metal e tornar-se Punk, mas Steve era irredutível em sua postura: Houvesse o que houvesse, sua banda seria de Heavy Metal, nada diferente disso.
A banda foi fundada no Natal de 1975, pelo baixista Steve Harris. Desde então, tem acumulado fama e fortuna ao redor do planeta.
Durante um espaço de quatro anos, as formações que compuseram o elenco da ‘Donzela de Ferro’ foram inúmeras, visto que Steve não se contentava com as qualidades dos integrantes que iam e vinham na sua banda. Em um dado momento, Steve conseguiu recrutar um jovem guitarrista de cabelos loiros, Dave Murray, que rapidamente substituiu a dupla das seis cordas que o IRON MAIDEN possuía. Por algum momento, o conjunto se estabilizou com Ron Matthews na bateria e Dennis Wilcock nos vocais, o qual desempenhava aparições com bastante pirotecnia e técnicas circenses no palco. Com a adição de do guitarrista Bob Sawyer, logo houve um desentendimento entre este e Dave, que oprimido por Dennis, resolveu largar o grupo na Primavera de 1977. Não demorou para Bob ser chutado da Donzela, após Steve comprovar que o mesmo usava artifícios falsos para impressionar a plateia, o que o deixou irritado. Houve então a convocação do guitarrista Terry Wapram, que foi o único detentor das seis cordas da banda por algum tempo, até a saída de Ron, ainda em 1977. Para repor a vaga, Thunderstick foi adicionado, juntamente com um tecladista (!), Tony Moore. Alguns shows foram realizados com essa formação, até Steve perceber que os teclados não se encaixavam na sonoridade do grupo, então Tony foi dispensado. Terry o seguiu, o que deixou a vaga de guitarrista novamente aberta. Steve não pensou duas vezes em ir atrás de Dave para propor-lhe um retorno, o qual foi aceito prontamente. Nesse interim, Dennis resolveu deixar o conjunto, levando consigo o baterista Thunderstick. Algum tempo depois Dennis formaria o grupo V1 com o Tony e Terry, enquanto Thunderstick faria parte da banda SAMON, que possui uma história muito íntima com o IRON MAIDEN, como poderá ser visto futuramente.
Steve não se rendeu. Antes do final de 1977, ele e Dave recrutaram o baterista Doug Sampsom, que segurou bem o ritmo das baquetas da Donzela. Steve ainda conseguiu convocar o vocalista Paul Di’Anno, um típico Punk desordeiro, produto de toda uma revolução social de incontáveis distúrbios. Com a postura debochada e irreverente de Paul nos vocais, aliada a forma de tocar encorpada e altamente técnica de Steve, uma fórmula mágica desenhou-se sob os olhos da banda, e no último dia do ano de 1978 o IRON MAIDEN gravou sua primeira demo, THE SONDHOUSE TAPES. Calcada na NWOBHM, a gravação contava com apenas três faixas e uma tiragem única de cinco mil cópias, disponíveis por correio ou através dos shows da banda. O material esgotou-se em poucas apresentações, e para desespero de muitos fãs nunca foi feita uma segunda tiragem, embora o conteúdo desta demo esteja presente no lançamento em vinil quádruplo de uma coletânea de 1996, intitulada BEST OF THE BEAST (que também existe na versão em CD duplo, mas sem a demo citada). Hoje em dia, em alguns sites de leilão na internet, uma cópia desta primeira prensagem chega a velar alguns milhares de dólares.
Lançada apenas no dia 9 de novembro de 1979, a película não viu o tempo passar, contudo o IRON MAIDEN já era uma realidade: Após quatro anos, tocava com garra e competência, possuindo ótima regularidade de shows e uma legião de fãs ávidos pelas notas melódicas e ao mesmo tempo furiosas do conjunto, que durante o início do ano ainda contou com duas guitarras, num posto altamente rotativo, até a entrada definitiva de Dennis Stratton que formou dupla com Dave Murray no lançamento do primeiro disco oficial da carreira da Donzela de Ferro. Enquanto Steve mantinha a postura de metalhead em alta, a sociedade e principalmente os sindicatos trabalhistas atacavam Margareth, dando-lhe o mordaz apelido de ‘Dama de Ferro’.
A mídia especializada foi forçada a notá-los, principalmente após as publicações da influente revista musical britânica Sounds apontar o grupo como um dos pioneiros da NWOBHM. Não tardou para o poderoso selo EMI tentar arrancar uma fatia de todo esse prestígio, e em dezembro daquele ano um contrato foi assinado entre a gravadora e Steve, que aquela altura já contava com o auxílio empresarial de Rod Smallwood, sujeito de vital importância para o sucesso do conjunto. Vale destacar que durante esse processo a gravadora despachou os conterrâneos do ANGEL WITCH numa das histórias mais inusitadas do Metal, sendo que o selo possui uma parceria com a trupe de Steve até os dias de hoje.
Visando captar o momento único vivido pela banda, que fazia apresentações viscerais nas mais famosas casas de show de Londres, como o Ruskin Arms , o Markee Club e o Rainbow Theatre, a gravadora solicitou a gravação de um single para rodar no mercado antes do lançamento oficial do primeiro disco. Durante as gravações deste trabalho Doug Sampson ficou doente, deixando o posto das baquetas vago para adição de Clive Burr, dono de uma técnica peculiar desenvolvida de forma exclusiva e particular, sem auxílio de professores ou coisa do tipo. Com a participação de dois bateristas a banda recordou as faixas RUNNING FREE e BURNING AMBITION, que faziam parte do material lançado em 8 de fevereiro de 1980. O compacto atingiu a quarta posição nos charts musicais britânicos, e pela primeira vez a mascote da banda, Eddie, faz uma aparição oficial. Seu rosto está encoberto por uma sombra, visto que o objetivo da banda era disponibilizar sua imagem completa apenas durante o lançamento do full lenght.
Com a boa repercussão de RUNNING FREE a banda sabia que estava com o caminho parcialmente pavimentado, enquanto a gravadora tinha a sensação de ter achado uma mina de ouro. No entanto, foi preciso uma paciência de Jó por parte dos fãs para enfim terem o primeiro trabalho completo da Donzela de Ferro em mãos. Steve não se satisfazia com os produtores disponibilizados pela EMI para realizar a captação das músicas, que apesar de terem saído no prazo nunca contentaram o líder do conjunto. Após tentar diversos profissionais, ficou acertado que Will Malone cuidaria da película, que já estava a mil no Kingsway Studios, localizado em Londres.
Ao lado de Steve, Dave Murray é o único integrante da banda a marcar presença em todos os discos da Donzela de Ferro, como ficou mundialmente conhecida.
Steve não perdoa a forma como o disco foi concebido. Ele alega que o som ficou cru demais, muito próximo do Punk, muito por causa da forma descompromissada de trabalhar de Malone. O baixista afirma que praticamente tudo no disco foi feito na raça, com conhecimento próprio e da equipe do estúdio, enquanto Will apenas reclamava e lia jornal. Contudo, seu nome acabou sendo creditado na contracapa do material, que ganhou as ruas no dia 14 de abril de 1980.
O conteúdo do disco é de uma potência ímpar, usando e abusando de passagens altamente técnicas e mudanças de andamento, do jeito que Steve gosta. As guitarras gêmeas tiradas da lenda irlandesa THIN LIZZY empregavam uma dose cavalar de adrenalina nas composições, enquanto a fúria contida nos vocais raivosos de Paul dava a tônica para um trabalho recheado de excelentes composições. Do riff melódico que abre a faixa PROWLER, a primeira do disco, passando por RUNNING FREE, CHARLOTTE THE HARLOT e a faixa título, o que se tem é uma das mais primorosas fatias do novo Metal britânico, que ainda encontrava espaço para composições mais trabalhadas, como RENEMBER TOMORROW (cujo trabalho vocal marca grande presença com o andamento crescente da faixa), PHANTOM OF THE OPERA (com desempenho magistral das guitarras, empregando acompanhamento vocal de bom gosto), TRANSYLVANIA (instrumental de mudanças dramáticas, indo do mais ríspido para o mais suave) e STRANGE WORLD (uma das melhores do disco, com sensibilidade e melodias inspiradíssimas, tudo de forma bem suave). A canção SANCTUARY deveria ter feito parte da película, mas como a faixa já estava cotada para o single de maio daquele ano, Steve preferiu priorizar o lançamento deste material. A capa deste trabalho deu o que falar, pois nela Eddie aparece apunhalando a Primeira Ministra Margareth que, capitaneando uma verdadeira caça a banda, conseguiu na justiça que a gravadora não usasse sua imagem. Bastou uma tarja sob os olhos da figura na calçada e tudo estava resolvido; contudo a prensagem sem a censura é uma peça raríssima, disputada a socos pelos colecionadores. Pior para Margareth, que a partir daí passou a ser alvo de perseguição de várias bandas do círculo musical britânico, principalmente o Punk e o Crust que, abusando de força total e uma popularidade absurda no underground, usava de letras ácidas para difamar sua imagem e escancarar as portas de uma sociedade falida, afogada em dívidas e pobreza. Em 1998, Steve, arrependido, preferiu incluir a faixa no relançamento do disco. Ela passou a ocupar o número 2 no tracklist.
Embaladas por uma cortina de fumaça de gelo seco, efeitos de luz bem sacados e uma performance quase teatral de tirar o fôlego, ficava difícil não apontar o IRON MAIDEN como uma nova sensação. O momento era tão favorável que a banda marcou presença em diversos programas, dentre eles o tradicional Top Of The Pops da emissora britânica BBC, no qual tocara ao vivo durante a divulgação do single RUNNING FREE, uma atitude ousada do conjunto, visto que todos os grupos convidados apenas gravavam suas apresentações. A última banda que tinha tocado ao vivo no local foi o THE WHO, em 1972.
E não parou por ai. Agendando uma turnê pelo solo britânico, a banda abriu os shows do JUDAS PRIEST em plena divulgação do disco BRITISH STEEL de 7 de março a 27 do mesmo mês, o que rendeu uma voa discussão entre a Donzela e os Metal Gods, tudo por causa de uma declaração polêmica de Paul Di’ Anno, bem ao seu estilo, dizendo que ele e sua banda passariam por cima do Priest em sua própria turnê. Foi o pontapé para uma das mais calorosas disputas do som pesado.
O conjunto é um dos precursores da NWOBHM, movimento musical britânico que fez ressurgir o Heavy Metal no Reino Unido.
O poderio do IRON MAIDEN estava começando a ficar grande demais para as fronteiras inglesas, coisa que Rod e a gravadora já haviam percebido. As casas de show já não suportavam a quantidade de fãs que seguiam o conjunto para onde quer que ele fosse, e numa jogada de mestre, o empresário do grupo conseguiu um contato com ninguém menos que Gene Simmons, e após uma boa conversa o demônio partira juntamente com o colosso KISS para a primeira turnê europeia da banda norte americana, contando com quem para abrir os shows? Pois é! A Donzela mais uma vez aceitou prontamente a proposta, e a longa excursão que passou por Bélgica, França, Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia e Holanda causou uma ótima impressão nas mais de 350.00 pessoas que tiveram a oportunidade de acompanhar a perna da turnê do disco UNMASKED dos caras pintadas, e um sabido quinteto britânico navegou de vento em popa, rumo a plateias cada vez maiores e mais ensandecidas... Na volta para a terra natal, uma nova excursão já os aguardava, e em agosto daquele ano o conjunto participou do imponente Reading Festival, que contou com a presença de várias grandes bandas: SLADE (ovacionado), DEF LEPPARD (vaiado), e o UFO, que desfrutava de uma fama nunca antes vista pela banda. O IRON MAIDEN tocou em penúltimo, arrancando sonoros elogios da multidão.
Apesar de todo o sucesso que o conjunto estava colhendo, a boa fase não duraria para sempre, pelo menos não para todos. O disco autointitulado de Steve e companhia é o único a contar com essa formação, visto que Dennis foi dispensado da banda por Steve e Rod, alegando que o guitarrista não estava se dedicando 100% ao trabalho da banda. Começou um debate acalorado entre Dennis e Steve, e o que se escuta é que as influências musicais dos instrumentistas falaram mais alto para esta decisão, já que Dennis nunca foi um fã aficionado de Metal, enquanto Steve daria a vida pelo gênero que ajudou a construir.
Hoje, mais de trinta anos após o lançamento deste clássico do Heavy Metal, o que podemos concluir é que a Donzela estava fadada ao sucesso. O trabalho duro aliado a competência e ao profissionalismo fez dessa banda a maior do planeta, e dificilmente alguma outra irá lhe tirar este posto num futuro próximo. Os passos dados por esse gigante da música passada deixaram pegadas que foram seguidas à risca por uma infinidade de outros conjuntos que, assim como o próprio IRON MAIDEN, vivem para trilhar seus próprios caminhos.
Passou a primeira metade da década de oitenta e, em 1987, após uma difícil reeleição e mesmo mantendo sua postura conservadora e extremamente de direita, foi durante um plano de sustentação econômica que se tornou um fiasco brutal que Margareth Thatcher não viu outra escolha a não ser pedir para sair, ainda que perseguida pela sociedade e pelas bandas que desciam a lenha na sua imagem sem dó. Coube aos seus sucessores se desdobrarem para consertar o estrago e conter as manifestações da massa social. Sem o mesmo sentimento de revolta, que mantinha aquela chama incontrolável do início acesa, O Punk Rock de outrora já havia metido os pés pelas mãos, pregando sua própria destruição. Coube ao Heavy Metal manter seu curso, com vem fazendo até os dias de hoje.
A versão de 1998 é a mais completa da obra, contando com a faixa Sanctuary, que havia saído apenas como single ainda em 1980. O primeiro disco do Iron Maiden é considerado um item essencial na coleção de qualquer metalhead!
Escrito em 26 de janeiro de 2014 com início às 20hrs. e 12min.









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